Fernando: Uma Jornada de Fé, Dor e Renascimento
Cresci num lar onde a fé era mais do que um ritual; era a base que sustentava cada passo da nossa vida. A religião católica fazia parte do nosso dia-a-dia, desde as orações à noite até à missa de domingo, que era quase um evento sagrado. O sacerdote da nossa paróquia, que também era meu padrinho, acolhia-nos calorosamente, e era impossível não sentir que pertencíamos a algo maior. O meu coração de criança foi moldado pelos valores que os meus pais me ensinaram: bondade, compaixão, perdão e amor ao próximo.
No entanto, como acontece em muitas jornadas humanas, a minha relação com a espiritualidade foi posta à prova. Durante a adolescência, comecei a questionar aquilo que antes parecia imutável. Cercado por novas ideias e influências, passei a ver as tradições da minha família como regras e expectativas que nem sempre faziam sentido para mim. Continuava a acreditar em Deus, mas perguntava-me: "Será que há algo para além desta estrutura?". Este período de dúvida levou-me a explorar outras filosofias e modos de viver. Mesmo assim, descobri que a base de amor e fé recebida em criança continuava a guiar as minhas escolhas, mesmo nos momentos de incerteza.
A dor que me transformou...
A maior transformação da minha vida veio através de uma perda que me abalou profundamente: o falecimento da minha mãe. A sua partida trouxe uma dor avassaladora e mergulhei num período de confusão, tristeza e saudade. Foi nesse momento de escuridão que tomei uma decisão corajosa: mudar de país em busca de um recomeço no meio de tantas incertezas.
Foi nessa nova fase da vida que conheci a Carla, a mulher que se tornaria a minha esposa e o ponto de viragem na minha jornada espiritual. Carla, com a sua sensibilidade e conhecimentos espirituais, ajudou-me a reconstruir-me e a olhar para a dor de uma forma que eu nunca tinha considerado antes. Ela mostrou-me que a morte não é uma separação definitiva, mas sim uma transição, um "até já".
Com a sua orientação, comecei a buscar respostas para compreender o mundo físico e espiritual, e, acima de tudo, para me compreender a mim mesmo. Foi assim que conheci a Umbanda, uma filosofia espiritual que me acolheu com os mesmos valores que os meus pais tanto prezavam: bondade, compaixão, perdão e amor ao próximo.
A Umbanda deu-me mais do que ensinamentos; ela proporcionou-me um espaço para a cura emocional. Encontrei nela o entendimento de que a minha mãe nunca me deixou verdadeiramente. Ela está comigo de outras formas, sempre presente no meu coração e na minha jornada.
Hoje, vejo a minha história como um caminho de reconciliação. Do rapaz que seguia as tradições católicas com a família ao homem que encontrou uma espiritualidade mais ampla e inclusiva, procuro viver a minha fé de forma autêntica e reflexiva. A Umbanda ensinou-me a abraçar a dualidade entre o mundo físico e espiritual e a transformar dor em aprendizagem, sofrimento em cura e dúvidas em amor.
A minha missão agora é partilhar o que aprendi, para que outros também possam encontrar luz nos seus próprios caminhos, tal como eu encontrei no meu.
O Despertar de uma Alma Forte:
A Jornada de Carla
Nasci numa família humilde, onde a discórdia, a falta de carinho e o sentimento de rejeição marcaram profundamente a minha infância. Os desequilíbrios emocionais eram constantes e, desde muito cedo, percebi que precisaria crescer antes do tempo. Aprendi a tomar decisões sozinha, como se ser adulta fosse a única forma de sobreviver.
Na adolescência, um relacionamento trouxe um novo capítulo à minha vida. Quando engravidei da minha primeira filha, o que deveria ser um momento de alegria rapidamente se transformou em dor e rejeição. Não fui aceite em casa, e, com poucas opções, vi-me obrigada a casar.
Quando o bebé nasceu, a felicidade inicial foi rapidamente ofuscada pelas exigências de uma nova rotina e pelo vazio emocional no meu casamento. O apoio que esperava encontrar no meu marido nunca veio. Ele vivia para si e para a sua família, deixando-me sozinha com as responsabilidades. As noites eram longas e solitárias, e as discussões tornaram-se frequentes, muitas vezes sobre dinheiro ou sobre um futuro que parecia cada vez mais incerto.
Após um ano, o vício do jogo começou a dominar a vida dele, corroendo ainda mais a nossa relação. O amor que eu sentia tornou-se sufocante, enquanto a solidão e o desespero cresciam. Quando o meu segundo filho nasceu, percebi que algo precisava mudar.
Tomar a decisão de me divorciar foi o ato mais difícil da minha vida, mas também o mais libertador. Saí de um casamento onde o apoio que esperava nunca existiu, e enfrentei o desafio de criar dois filhos pequenos sozinha. Aquele período trouxe-me não apenas dificuldades financeiras, mas também um vazio interior profundo. Durante anos, tinha dedicado a minha vida ao marido e aos filhos, esquecendo-me de mim mesma. Agora, precisava de reconstruir-me, mas sentia-me emocionalmente esgotada e sem rumo.
Foi nesse momento de crise que a espiritualidade surgiu como um caminho inesperado.
Uma conversa com uma amiga próxima mudou tudo. Ela falou-me da Umbanda, uma religião brasileira que valoriza a conexão com o mundo espiritual, os rituais e os valores de caridade e amor ao próximo. Curiosa e sem muito a perder, aceitei o convite para assistir a uma gira.
Naquele ambiente, algo profundo tocou-me! Pela primeira vez em muito tempo, senti acolhimento, paz e uma sensação de pertencimento. Ali o que eu ouvi tocaram-me o coração, recordando-me de que, apesar das dificuldades, eu tinha dentro de mim a força necessária para recomeçar.
A Umbanda tornou-se um caminho de cura para mim. Durante anos, participei nos rituais e mergulhei nos ensinamentos espirituais. Cada etapa foi um pedaço da minha reconstrução. Encontrei ali as ferramentas para transformar a dor em força, o vazio em propósito e a solidão em amor-próprio.
Hoje, olho para o meu passado com gratidão. Tudo pelo que passei — a rejeição, os desafios, as lágrimas — foi um preparativo para algo maior. Compreendi que, mesmo nos momentos mais sombrios, existe uma luz que nos guia.
A minha missão agora é partilhar essa luz, ajudando outras pessoas a encontrarem o seu caminho de cura e reconexão consigo mesmas, tal como eu encontrei no meu. Porque, no final, cada dor que vivemos tem o potencial de nos transformar, e cada desafio traz consigo a oportunidade de renascer.
O Encontro de Duas Almas
E um novo Caminho de Fé
Às vezes, parece que a vida nos leva exatamente para onde precisamos estar, mesmo quando não entendemos o porquê. Foi assim que nos cruzámos pela primeira vez. Trabalhávamos juntos numa empresa, e o destino tratou de colocar-nos lado a lado. O que começou como simples conversas no intervalo do trabalho transformou-se em algo muito maior.
Todos os dias, sentíamos uma conexão especial que não conseguíamos explicar. Conversávamos sobre tudo: a vida, os desafios, as dores que carregávamos, mas também os sonhos que guardávamos no coração. E foi aí que percebemos que não estávamos apenas a partilhar palavras; estávamos a partilhar o mesmo caminho, mesmo sem saber.
Descobrimos que, apesar das nossas realidades tão diferentes, havia algo que nos unia: o desejo de superar as dores do passado e encontrar um propósito maior. Cada conversa era como uma peça de um quebra-cabeças que nos ajudava a enxergar o que estava por vir. Até que um dia, deixámos o ambiente de trabalho para trás e começámos a encontrar-nos fora daquele espaço. Foi quando entendemos que o nosso encontro não era por acaso.
Era mais do que isso. Era como se tivéssemos sido colocados no caminho um do outro para nos proteger, nos curar e nos transformar. O que começou como uma amizade tornou-se amor e, mais tarde, um propósito compartilhado. Juntos, decidimos buscar algo que fosse além de nós mesmos, algo que pudesse ajudar outras pessoas.
O Encontro com a Umbanda e o Cria Ti Na Luz
Foi nesse processo de busca que conhecemos a Umbanda, que trouxe-nos cura, equilíbrio e a compreensão de que o sofrimento pode ser transformado em força. Ela foi a nossa porta de entrada para um mundo de possibilidades espirituais e terapêuticas.
Mas não parou por aí. Tivemos a sorte de encontrar a Egrégora Cria Ti Na Luz, fundada por Márcia Moraes, que trabalha desde 2012 a formar terapeutas pelo mundo inteiro. A Márcia tornou-se uma mentora fundamental nas nossas vidas. Através da sua orientação, aprendemos a canalizar a nossa experiência, as nossas dores e as nossas curas em algo maior.
Foi ali, na Cria Ti Na Luz, que percebemos que a nossa história — os desafios que enfrentámos e as lições que aprendemos — poderia ser transformada em um trabalho que ajudasse outras pessoas...
E assim nasceu o Caminhos de Fé
O Caminhos de Fé é muito mais do que um projeto. É um chamado. É o lugar onde ajudamos as pessoas a encontrarem as suas próprias respostas, a despertarem para quem realmente são e a superarem os seus processos de vida, tal como nós fizemos.
Usamos tudo o que aprendemos: terapias holísticas, práticas espirituais e o poder da conexão com o mundo físico e espiritual. Mas há algo que está no centro de tudo o que fazemos: a fé. Porque, no final, é a fé que nos guia, que nos dá força para continuar e que nos conecta com algo maior.
Caminhos de Fé nasceu da nossa história, mas é para todos aqueles que buscam um caminho de cura, crescimento e transformação. Queremos mostrar que, independentemente do que se viveu, é possível recomeçar, encontrar luz na escuridão e transformar a dor em propósito.
O nosso trabalho é para si, que lê estas palavras agora. É um convite para caminhar conosco, para descobrir que dentro de si também há uma força imensa, capaz de superar qualquer obstáculo. Assim como nós, acreditamos que também pode encontrar o seu Caminho de Fé.